Pietro álamo

A Felicidade a Menos

  O primeiro dia da nova estação vem sempre carregado de nostalgia. Ele traz o calafrio, a textura, as cores, o cheiro dos antigos dias. Tudo parece como naquela vez; é como afora da porta fosse ver-se aqueles cenários e aqueles amigos, com aqueles hábitos, com aquele brilho, aquele fogo forte, o frio na barriga, a empolgação, os prantos, os risos.
  Então afora da porta tem-se o agora, no dia seguinte o clima prenunciado se retira e encolhe-se a sombra da nostalgia, permanecendo o ressaibo amargo análogo ao que o doce deixa na boca – a melancolia dos dias maduros, a insipidez dos anos seguintes.
  A história que vem após uma grande história é por natureza desinteressante? É claro que não. Pode mesmo ser uma história muito bela. Mas, como tudo que vem em segundo lugar, ela tem seu brilho ofuscado. Não se pode culpar ninguém que tenha conhecido uma grande história por não apreciar uma história menor. É que esse protagonista tornou-se incapaz de ver esse brilho. Viu uma vez um brilho tão forte que lhe cegou em parte as vistas e agora só um brilho semelhante poderia tirar-lhe o ar e sustar-lhe o coração. Cruzou uma fronteira da qual não se volta e da qual se vê do alto a todas as pequenas histórias. Provou, talvez, um pedaço do céu, e por punição perdeu o paladar.
  É ele então infeliz? Por certo que não. Não se pode chegar a chamá-lo infeliz, tampouco ele o faria. Apenas sucede àqueles que cometeram o pecado de terem sido felizes demais que qualquer felicidade a menos então lhes seja insuficiente, e que vivam eternamente presos à ciência do tamanho da história que viveram. A punição para esse seleto grupo de pecadores não é a infelicidade, senão a melancolia dos dias maduros, a insipidez dos anos seguintes.

05.12.18

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