Um projecto de existência
consubstancial ao pó,
um impulso instintivo,
um ríctus fundamental
de hesitação.
No limiar rarefeito
da minha caminhada,
um homem só,
o mais efémero,
como no dizer de Rilke.
Embora seja oclusivo
ea descida forçosa,
preciso é pesquisar
a origem para despir
o próprio ser.
A tarefa é portanto
desmascarar o mundo
e suas lacras.
Redimir mesmo nos seres
sua consciência esquecida.
Proceder ao inventário
da humana condição,
quer dizer, rodopiar
a linguagem dos conceitos,
pura metamorfose.
Ou melhor: redescobrir
as relações enigmáticas
do simples acto de existir
no exacto do facto
para lá dos parâmetros comuns.
Daí que isto pareça obscuro
aqueles que não sabem ler.
A simbiose dos relógios
numa história em mudança
que apodrece o trajecto.
Porque em verdade acontece
que as coisas nao sao mudas;
as coisas falam;
têm sua própria voz:
a da epiderme das pedras.
O homem só reflecte a assonância
das palavras cunhadas pelas coisas,
onde as formas se confundem
com as vivencias dos viventes
nos traços de um labirinto.
A palavra sòmente
propõe e dimensiona
as sílabas que vou pondo
naquela classe de livro
tão obsessivamente laborado.
A reinvenção do homem
sem salvação apenas.
Se o mundo é quase um caos,
vão manter—se as dirimências
entre o homem e o mundo?
Empenhar—se no esforço
de restaurar os sonhos,
é a teoria das espécies,
o contrato intuitivo
entre o homem e o mundo?
Um louco a procurar
as razões da vida,
mesmo da inútil criação,
mais seus deuses possíveis,
isso é o que eu sou.